quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eleições 2010 em Alagoas: Um resultado previsto

Jorge Vieira*

A perspectiva da população a cada eleição, em geral, vislumbra a manutenção ou alternância de políticos no poder. Ou seja, quando os representantes respondem às expectativas da sociedade, a tendência é reconduzi-los ao cargo; caso contrário, procura eleger novos mandatários. Entretanto, as duas possibilidades dependem de fatores como o carisma pessoal, o marketing político, a conjuntura política e econômica local, nacional e até em nível internacional.


Historicamente, em Alagoas, o poder mantém-se inalterado, salve algum fato conjuntural que impulsiona mudança quanto aos ocupantes dos cargos de Estado. Basta lembrar a década de 1990, quando Ronaldo Lessa e Heloisa Helena, saíram do ostracismo político e foram eleitos prefeito e vice-prefeita de Maceió.

Dois fatores foram determinantes para os neófitos chegarem ao staff do poder político alagoano, a capital do estado – político e economicamente expressivo. Em nível local, o então prefeito, Djalma Falcão (PMDB) abandonara o município, deixando-o principalmente sem assistência em educação, saúde, transporte urbano, asfaltamento das vias públicas. No cenário nacional, a sociedade brasileira encontrava-se mobilizada em virtude do impeachment do ex-presidente alagoano Fernando Collor de Melo. A ressaca republicana repercutiu internamente, transformando um suplente de vereador e uma professora de enfermagem em duas lideranças política emergentes.

Na mesma década, o estado encontrava-se em profunda crise administrativa e política do desastroso governo da dobradinha herdeira do regime militar, Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Impulsionada pelo choque internacional neoliberal de Georg Bush e Margaret Thatcher, assumido internamente pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, a população cansada dos políticos tradicionais apostou na renovação, elegendo Ronaldo Lessa e Heloísa Helena, governador e senadora da República.

Do ponto de vista estrutural, houve pouca mudança, motivada pelo não entendimento de ambos e/ou por acomodação ao establishment. A esperança de construção de novos rumos para a sociedade se transformou em desmobilização e retomada das políticas tradicionais, do fortalecimento dos grupos econômicos e das forças reacionárias e truculentas. As duas principais lideranças buscaram caminhos distintos, possibilitando, assim, a reestruturação política das oligarquias. O processo eleitoral seguinte representou a volta ao poder dos grupos alijados eleitoralmente, com a aliança do PSB de Ronaldo Lessa ao PSDB de Teotônio Vilela, em nível municipal e estadual.

À margem da política local, Heloísa Helena mergulha seu carisma nas questões nacionais. Busca capitanear a insatisfação da sociedade e da militância de esquerda descontente com os rumos do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, envolvido em escândalo do famigerado “mensalão”, culminando com a criação de um partido político, o PSOL.

As forças emergentes afundam-se no ostracismo novamente, deixando à mercê dos interesses dos grandes grupos políticos e econômicos do estado. Apossados, em nível do executivo e do poder legislativo, os grupos se apropriaram das instituições públicas, transformando-as em propriedades particulares. Os vários fatos desqualificaram ética e moralmente os seus ocupantes, desencadeando operações da Polícia Federal, a exemplo das denominadas Gabiru e a Taturana. Na ocasião, secretários de Estado, prefeitos e deputados estaduais foram presos, acusados de apropriação indébita de recursos públicos.

Pródigos em escândalos, a maioria dos deputados estaduais aprovou casuisticamente Emenda Constitucional possibilitando a indicação do atual presidente da Assembleia, Alexandre Toledo, para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Nessa conjuntura, o que o cenário político aponta para 2010? Estaria favorável à mudança? Infelizmente, não! Por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, os deputados afastados (diga-se de passagem, nunca deixaram o poder de fato!), retomam seus mandatos e, consequentemente, o comando político do estado.

Jornalista – diplomado pela UFAL.

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